As velhas raposas afirmam contribuir com a formação de novos quadros, mas, para isso, lançam mão de “alianças genéticas”, delegando aos seus filhos e netos a tarefa de levar à frente o cajado do seu “legado político”.

Na Bahia das eleições de 2010, para um (e)leitor atento, ao serem analisados os materiais de campanha, provavelmente a máxima que impera, seja: “em nome de meu pai”. Obviamente eu não me refiro aos candidatos vinculados a grupos cristãos neopentecostais.

Basta um mínimo de esforço, uma gota do exercício de leitura crítica dessa enxurrada de imagens eleitorais, para que se perceba o investimento no “novo”, estratégia experimentada por velhas raposas do cenário político.

Bem, essa aparente oxigenação do quadro político esconde, em verdade, uma estratégia de se manter no poder. Trocando em miúdos, estou fazendo referencia à profusão de “juniores” e “netos” que caracteriza o atual cenário eleitoral e se espraia pelas candidaturas a Deputado Federal, Deputado Estadual e – é preciso prestar muita atenção – à Suplência do Senado.

Em nome de uma atuação política a longo prazo, as velhas raposas afirmam contribuir com a formação de novos quadros, mas, para isso, lançam mão de “alianças genéticas”, delegando aos seus filhos e netos a tarefa de levar à frente o cajado do seu “legado político”.

As “alianças genéticas” são úteis em dois sentidos: podem desviar a atenção dos possíveis candidatos com ficha suja, e também podem servir para caracterizar os bonecos de luxo que irão encenar com base nos comandos de ventríloquos altamente experientes.

Resta a nós, (e)leitores, o exercício de rememoração. Afinal, algumas raposas, agora transmutadas na “ventriloquia”, já protagonizaram, em passado recente, manobras radicais nos quesitos desvio de verbas públicas, sucateamento da educação, esquemas de propina e outros fatores antidemocráticos.

Mas, como disse, o investimento no “novo” contribui também para alimentar o cidadão com imagens pretensamente revigorantes, provavelmente para, como sobremesa, servir, em taças delicadas e porções adequadas, o esquecimento. Esquecimento esse que, claro, vai permitir às raposas a permanência no imaginário eleitoral – tudo regado a campanhas caríssimas, e com o toque de “qualidade” dos marketeiros.

Considerando essas questões todas já tenho uma certeza para o dia 03 de outubro: vou utilizar critérios para a eliminação de candidatos. E o meu primeiro critério será: não às candidaturas hereditárias. Quem conhece a história política baiana entende bem o que estou dizendo…

Daniela Galdino é doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos – UFBA, professora da rede pública e professora visitante da Uneb.